domingo, 25 de fevereiro de 2018

A História de Jorge e Teodora

No ano de setenta e um
Eu pensei em melhorar,
Vendi tudo o que eu tinha
E viajei para o Pará.
Foi um passo muito errado,
Só fui me naufragar.

Mas mesmo assim não desanimo
E nem devo me perturbar
Porque o ímã do homem
É aquilo que pensar.
O destino quem dá é Deus
Para a sorte melhorar

Mas ainda hoje eu penso
Para lá tornar voltar,
Depois eu peço a Deus
Para este pensamento afastar,
Porque eu, mulher e filhos
Não saíamos do hospital.

A febre naquela região
Era uma calamidade,
Só se via era o clamor
Em todo o povo da cidade.
Uns diziam: vou me embora
Para minha terra natal

Outros diziam; ó terra malvada
A que saí da minha terra,
Sem ter precisão de nada,
Para vir para esta terra
Tão sofrida e angustiada
E viver nesta miséria.

Isto que estou dizendo
É a mais pura verdade,
Falo e dou testemunho
Com toda a sinceridade,
Porque eu nunca menti,
Só digo sempre a verdade.

Parece uma novela
O que comigo se passou,
Ima vaca traiçoeira
Lá na manga me pegou
E me jogou para cima
E meu espinhaço deslocou.

A vaca era perigosa,
O chifre era um espantão,
Ela me suspendeu
E me jogou num buracão,
E ela ficou de fora
Turrando como um leão

O que comigo se passou
Naquela hora fatal
Foi um momento infeliz
Em que não pensava no mal,
Mas quando foi no outro dia,
Fui parar no hospital

A dor era tão grande,
Que eu estava sem sentido.
Minha esposa foi ao médico
E logo lhe fez um pedido:
Doutor, por caridade,
Atenda o meu marido:

Ele respondeu para ela,
Dizendo desta maneira,
Logo ele é consultado
E a senhora é a primeira.
Levou-me ao consultório
E deu pressa às enfermeiras

Ouvi o médico falar,
Este foi um infeliz,
Dizendo para a minha esposa,
Isto sou eu quem lhe diz:
Já dei nele um banho de luz
E passei no raio-x.

Ouvi também o médico dizer:
Este é um caboclo aprumado,
O que ele está sentindo
É um caso bem pesado,
Muito sangue na bexiga
E o espinhaço deslocado.

Fui para um quarto de primeira
E fui bem recomendado.
O médico era gente boa,
Viva sempre ao meu lado,
E dizia às enfermeiras:
Tratem com todo o cuidado.

Doutor Reges é gente boa,
Hoje eu posso falar,
Ali nada me faltava
Naquele grande hospital,
Foi o que aconteceu comigo
Naquele mundo de lá.

Muitos vão para aquela terra
É somente por influência,
Não pensam nas dificuldades
E nem tão pouco nas doenças
E nas confusões de terras
Que provocam desavenças.

As terras são muitos boas
Para tudo que se pensar,
Uns vão ricos e ficam pobres
E outros, pobres, para enricar.
Mas a riqueza é um encanto
Que vem e torna voltar.

Não falo do Maranhão
Porque lá eu não morei,
Eu só falo do Pará
Porque lá eu me encontrei,
Não está escrito no gibi
Aquilo que eu passei.

Quando eu recebi alta
Para sair do hospital,
Ia chegando um dos filhos
Que já estava muito mal.
A febre era tão grande
Que não podia falar.

Eu só dizia assim:
Meu Deus, o que vou fazer?
Aí, eu logo dizia:
Tudo há de acontecer,
Nosso Senhor Jesus Cristo
É quem vem nos socorrer.

Quando estava com quinze dias
Do acidente passado,
O médico falou comigo:
Você está recuperado,
Mas tenha muito cuidado
Com este osso deslocado.

Quando estava com noventa dias
Eu estava recuperado,
Comecei a trabalhar
Na derrubada de um roçado,
Levei outro contratempo
E fiquei inutilizado.

Voltei novamente ao médico,
Que já era bem conhecido,
Minha esposa falou com ele
E fez o mesmo pedido:
Doutor, por caridade,
Atenda o meu marido:

Ele disse para ela,
Este caso é complicado,
Ele não vai ter mais vida,
Pois o estomago está furado.
Eu disse: Quero operar,
Assim morro aliviado.

Então me levou para a banca
Para fazer a cirurgia,
Às cinco horas da tarde,
Já estava findando o dia,
Quando saí da banca
Eram duas do outro dia.

Com vinte horas eu escutei
Ima grande gargalhada,
Logo eu abri os olhos
E vi aquela rapaziada,
Três médicos e minha família
E toda aquela parentada.

O doutor me perguntou,
O que foi que você falou?
Torna a falar camarada.
Eu disse: Quebraram os meus braços,
E os meus olhos estão furados;
Ele disse: Nada disto,
Você está atrapalhado.

Logo eu fui melhorando,
Graças a meu Senhor Jesus Cristo
Tenho que vencer tudo
Que para mim possa vir
Pois Deus me dá o conforto
E com Ele, tudo eu resisto.

Quando foi no outro dia,
Ouvi minha esposa falar:
Doutor, faça o favor,
Eu quero lhe perguntar,
Quanto lhe pagarei
Pelas despesas do hospital?

Ele falou para ela,
Esta conta eu vou lhe dar,
Pois vocês são gente boa,
Não vou lhes explorar.
Só pagam um milhão e quinhentos,
Mas para ninguém vão falar.

Mas graças a Nosso Senhor,
Tudo isto se passou,
Foi uma grande tempestade
Que o vento veio e levou,
Mas a fé e a esperança
Nunca de mim se afastou

Ainda estou vivendo
Conforme Deus é servido,
Nunca me faltou o pão
Pelo amor do Pai Querido,
Que é forte e poderoso
E nuca sai do meu sentido.

Amigos, prestem atenção
Naquilo que estou dizendo,
Falo para vocês
No momento que estou escrevendo,
Peço que prestem atenção,
Para ficar bem entendido.

O que meus pais me diziam,
Hoje estou compreendendo,
O sofrimento dos outros
A gente não está vivendo,
Mas quem sabe a dor que sente
É aquele que está sofrendo.

Voltei de novo para trás,
Tudo se acabou:
Dinheiro, gado e terra,
Nada disto mais ficou,
Peço meus queridos netos,
Ouçam o conselho do vovô.

Hoje só resta em mim
Amor, paz e amizade.
Toda vida eu fui bem quieto
Em toda a sociedade.
Só o que resta em bens
É uma barraquinha na cidade.

Vou contar para vocês
Quem lá em casa tinha chegado,
Ele já é falecido,
O seu tempo foi marcado,
Chamava-se João Soares,
Meu grande amigo e cunhado.

Dele não posso esquecer
Nem um instante nem uma hora,
Trago sempre retratado
Dentro da minha memória,
Pedindo a Nosso Senhor
Que lhe dê o reino de glória.

Se eu ouvisse os conselhos
Que tantos amigos me davam,
Hoje eu estaria muito bem,
Nada para mim faltava,
Mas mesmo assim vou vivendo
Do jeito que eu gostava.

Vou terminar esta história
De uma forma verdadeira
Pois fala do meu sofrimento
E de minha companheira,
Escrevendo aqui o meu nome,
Que é: Jorge Jose de Oliveira.

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